Estudos apontam que pessoas que viajam, estudam ou trabalham no exterior são mais criativas do que aquelas que não passaram por essa experiência

Viajar e fazer intercâmbio favorecem a criatividade
Viajar e fazer intercâmbio favorecem a criatividade

Você se acha criativo? O “ter criatividade” parece assustar muita gente. Parece que é complicado – e cansativo – ser criativo. Afinal, ter que ter ideias o tempo inteiro é um saco. Ninguém é uma máquina de ideias, de invenções, não é mesmo? Mas, na verdade, ser criativo não é nenhum bicho de sete cabeças não. Eu tinha um professor na pós que sempre dizia que criatividade não é criar coisas novas, é aproveitar as oportunidades e usá-las ao seu favor. Quando trabalhei em uma agência de comunicação, a qual tinha como slogan “Os nossos nerds são os mais criativos”, tive como cliente a 3M, empresa multinacional cujo dois de seus pilares eram criatividade e inovação. Eles também diziam que ser criativo não era recriar a roda, mas sim buscar o melhor aproveitamento dela. Será que ela não poderia servir para outra coisa?

Mas, oras, por que raios estou falando de criatividade em um espaço de viagens e intercâmbio?! Além de a criatividade dar um tempero especial às nossas viagens, tornando-as ainda mais inesquecíveis, queria compartilhar com vocês algo que li e gostei muito de saber (apesar de já desconfiar!): viajar e, principalmente, morar no exterior favorece a criatividade.

Estudo publicado no Journal of Personality and Social Psychology apontou que pessoas que estudaram ou trabalharam no exterior são mais criativas do que aquelas que não passaram por essa experiência, principalmente porque estar em contato com uma cultura diferente da sua estimula o processo criativo. Isso porque quando viajamos para um país diferente e, principalmente, se temos a oportunidade de morar lá por um tempo, somos expostos a diversas situações, temos contato com realidades, comportamentos, culturas, formas de pensar e agir distintos. Tudo isso estimula nossa capacidade de buscar novas perspectivas para os problemas encarados, nos faz “pensar fora da caixa”.

Segundo a psicóloga Talita de Souza Borges, quando as pessoas saem de seus países (sua zona de conforto), se deparam com uma nova realidade, são expostos a novos conceitos e necessidades, ficam distantes de sua rede de apoio (que também é uma zona de conforto) como pais, familiares, amigos etc., e tudo isso “obriga” o indivíduo a encontrar formas de agir para conseguir chegar aos seus objetivos, sejam esses, vontades ou necessidades. “Nesse novo contexto, manter comportamentos que estavam acostumados não trará resultados esperados, e assim o processo criativo surge como busca de bem-estar”, comenta.

Por exemplo, se você chega em um país em que não entende o idioma local, você cria estratégias para se virar. Quando eu cheguei em Minnesota, estava tão nervosa que não conseguia entender ninguém. Minha estratégia foi observar fixamente os lábios da pessoa quando ela falava comigo. Depois, observei também que quando eu estava levemente alterada (não bêbassa, hein?!), eu conseguia falar melhor, já que me libertava dos entraves da minha timidez. Não que eu bebesse o tempo todo, nem podia, porque eu cuidava de crianças, mas comecei a aproveitar o máximo os momentos em que eu bebia para falar cada vez mais e, assim, ir pegando confiança, até que não precisei mais dessa “muleta”. Quer outro exemplo de como viagens favorecem nossa criatividade? Meu primo foi para Europa sem saber falar nada. Nem inglês, nem espanhol nem nada que não fosse o português. Na Itália, ele se comunicou por meio de assobios e mímicas. Teve uma vez que ele pediu informações de um museu por meio de mímicas e o senhor lhe passou a direção em assobios. Os dois se entenderam e ele chegou ao museu.

Contudo, os pesquisadores deixaram muito claro que não basta viajar para estimular o nosso processo criativo. O que vai favorecer a nossa criatividade é o quanto somos flexíveis e abertos a aprender com outros lugares, culturas e, sobretudo, com pessoas.

E se não der para viajar agora, não ache que é o fim da sua carreira, que você não conseguirá desenvolver sua criatividade. A psicóloga Talita Borges explica que é possível estimular a criatividade em qualquer lugar, desde que a pessoa se proponha a sair de sua zona de conforto. “Permanecer na zona de conforto não produz mudanças. É como se alguém ou você congelasse a sua vida”.

Então já sabe, viajando ou não, esteja sempre aberto a aprender com os outros, com os lugares e costumes. E uma dica preciosa da psicóloga: “Não espere uma mudança de ambiente para se conhecer melhor e entender o que é importante para você”.

    Jornalista, ama se jogar pelo mundão, mas fosse escolher um cantinho para morar seria Minnesota – EUA (mesmo chegando a fazer -30 graus no inverno). Ex-intercâmbista, ex-au pair. Teve o prazer de mostrar para crianças norte-americanas como é gostoso comer brigadeiro!