Quando embarcamos em um intercâmbio, esperamos conhecer lugares novos, aprender ou aprimorar um idioma e, principalmente, vivenciar uma cultura diferente. Além de nos divertirmos, crescermos e, ainda, enriquecermos nosso currículo.
A nutricionista Márcia Pedroza (33) quis sim conhecer lugares e pessoas novas, bem como aprimorar o inglês, mas ela fez da experiência do intercâmbio também a oportunidade de ajudar o próximo. Márcia já carrega em sua bagagem dois intercâmbios voluntários. Um para África do Sul, em 2008, e um para o Haiti, em 2014, ambos intermediados pela igreja que frequenta.

No da África do Sul, onde ficou por um ano, Márcia mesclava suas aulas de teologia pelas manhãs com idas a favelas para cuidar de acamados. “Íamos à casa da pessoa, fazíamos curativos de feridas mais superficiais, dávamos banho, que era só passar um pano no corpo da mulher. Ou a gente dava sopa. Às vezes, quando a casa estava muito suja, varríamos, dávamos uma limpada para melhorar o ambiente”, comenta a ex-intercambista que ressalta que, além de ter a companhia constante de uma supervisora durante as visitas, passou por um treinamento assim que chegou a Cape Town. Além das favelas, seu grupo também visitava hospitais públicos para alimentar pessoas que esperavam por atendimento médico. “Lá é precário, então, as pessoas que estão em hospital público estão esperando há muito tempo e provavelmente estão famintas”, relembra a nutricionista.
Por ser um intercâmbio voluntário, Márcia precisou se bancar ao longo do programa. No pacote estava incluso a estadia (ela morou com 3 famílias ao longo desse um ano) e meia pensão, ou seja, café da manhã e jantar. “Fiz uma programação com o dinheiro que tinha na época. Todo começo mês minha irmã depositava um valor fixo para eu passar o mês”. E Márcia fez isso com o coração radiante de felicidade, sem se arrepender. Tanto que em 2014 repetiu a experiência, dessa vez no Haiti, porém, por apenas duas semanas.

Apesar de ter se programado para fazer recreação com as crianças locais (muitas órfãs por conta dos desastres naturais que atingiram o país), por ser nutricionista, de última hora também lhe foi solicitado um treinamento de segurança alimentar para as mulheres da favela. “Como lá não tem saneamento básico, água encanada, nem luz, então dei algumas dicas como: usar o sal para ajudar na conservação de carnes, ferver a água antes de consumir e colocar cloro sempre que tiver, porque muitas vezes lá não tinha, aí não tinha gás, tinha que fazer o fogo com carvão… Dei algumas dicas preventivas também, como: quem tem pressão alta pode consumir o alho amassado na comida. Falei do porquê de consumir abacate, já que lá tinha bastante. Enfim, do que tinha lá eu consegui tirar alguma coisa para passar para elas”, relembra.

Além da barreira do idioma – que Márcia recomenda para quem for fazer o intercâmbio voluntário estar um pouco mais afiado – o fato de ter que se virar nos trinta, como ter sido chamada para desempenhar atividades para as quais ela não estava preparada e, principalmente, se deparar com uma realidade muito precária e de pessoas muito necessitadas, não só de atenção do Estado, mas, sobretudo, de carinho e de amor, foi uma experiência inesquecível que a fez crescer. “Hoje sou outra pessoa. Penso mil vezes antes de reclamar, porque eu sei que tem muita gente pior que eu. Eu sou muito feliz do jeito que sou, com as coisas que tenho. Passando dificuldade ou não, eu sou muito feliz”, destaca.
E sua sede de ajudar o próximo não seca. “Agora eu queria ir pra Filipinas, que é uma região que tem bastante pessoas assim, mas ainda não decidi. Esse é o tipo de intercâmbio que eu gosto”.