Vamos experimentar vivenciar mais e postar menos
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Nos primórdios dos anos 2000, tinha uma campanha na MTV que dizia “desligue a tv e vá ler um livro”.
Não sei se vocês, queridos leitores, chegaram a vê-la [me sentindo velha agora…], mas é só jogar no Google que aparece. Mas ela me veio à mente dia desses, quando vi uma pesquisa realizada por psicólogos da Universidade da Virginia que dizia que as pessoas são mais felizes quando estão planejando suas férias do que quando estão, de fato, viajando. Qual a relação?! Tenho certeza de que se a campanha rolasse hoje, o mote seria “desconecte o wi-fi ou 3G e vá viver”.
Gente, não sei vocês, mas eu me dei conta que me divirto muito mais planejando tudo da viagem, imaginando como vão ser os passeios, os locais que vou visitar do que quando estou no destino de fato. Não digo que não gosto das minhas viagens. Longe disso. Contudo, com um mundo cada vez mais conectado, parece que virou obrigação registrar cada passo que damos durante o passeio.
Se você não der check-in no aeroporto (e nem estou falando daquele no balcão da companhia aérea), se não fizer um Snapchat dentro do avião nos 10 segundos restantes antes que a aeromoça chame sua atenção pedindo – pela milésima vez – para desligar o celular, se não postar fotos da culinária local, do look da viagem, do pé na areia ou de sei lá mais o que, parece que você não viajou.
É uma cobrança louca em cima de nós. Você se torna um expectador da sua própria viagem, em vez de ser o protagonista, já que vê tudo por meio da tela do celular ou da câmera fotográfica, só para poder registrar tim-tim por tim-tim. No fim do dia, duvido que você se lembre da cor da camisa do rapaz que estava sentado no banco da praça tomando sorvete. Provavelmente você nem viu que tinha uma praça. Nem um banco. “Tinha sorveteria ali? Puxa, estava tão calor, se eu tivesse visto…”
Pois é. Hoje viajamos por meio de telas. Eu mesma, acompanho uma determinada blogueira que, há uns meses, foi para a Grécia e Turquia e registrou absolutamente tudo pelo Snapchat. Era quase um reality show. Parecia que eu estava lá. Se duvidar, eu, aqui em São Paulo, devo ter reparado em mais detalhes do local em que ela estava do que a própria – já que é preciso se atentar ao tempo da gravação, à melhor luz, o melhor ângulo.
Não estou dizendo que não devemos registrar nossas viagens – sejam elas de férias ou intercâmbio. Estou apenas convidando para uma reflexão. Podemos tirar fotos e até postar, mas que tal um pouco mais de moderação?
Vamos curtir o momento, gente, pois ele não vai voltar. E você vai se arrepender muito. Experimente deixar o celular na bolsa. Sinta o vento no rosto. Olhe para a criança brincando perto de você. Converse com ela. Brinque com ela. Se entregue à experiência. Isso é o que fica. A foto, se for digital, pode ser deletada. Se for impressa, pode ser perdida, queimada, rasgada. Mas a sua memória, a sua experiência…. Ah, isso nada nem ninguém pode arrancar de você.
Vamos experimentar vivenciar mais e postar menos? Te garanto que sua viagem não vai ser menos verdadeira, menos intensa nem tão pouco menos interessante se você não tiver uns 50 likes.
Beijos e até a próxima.