Fazer intercâmbio em cidades mais afastadas do centro pode lhe trazer grandes surpresas e experiências raras. Confira!

Mas eu dei uma chance ao acaso. Escolhi a família de Minnesota antes de Boston. Meu noivo diz que eu fui parar no meio do mato, com um bando de caipiras. Eu digo que fui parar no “meu cantinho especial no mundo”. Eu não ligo que as pessoas, inclusive alguns americanos, façam piadas ou fiquem boquiabertos quando falo – com um entusiasmo que não cabe em mim – o quanto eu gosto daquele lugar. “Arrra, ocê aprendeu a falá enrolado sô?! Aprendeu a plantá mio?!” Deixa eles pensarem assim.
Foi naquele meio de mato que descobri que um shopping pode ter mais de 230.000 m², ter o status de maior do país, abrigar mais de 520 lojas, servir de pista de caminhada e de corrida, ter museus, aquário, realizar mais de 400 eventos gratuitos por ano, ter mais de 50 restaurantes, um enorme parque de diversões e caber dentro de um coração.
Naquele meio de mato descobri que 10.000 lagos é só uma questão de facilitar a contagem (e facilitar a publicidade), porque na verdade, a conta dos lagos que dominam a paisagem e se misturam aos arranha-céus já passou de 15.000.
Foi ali também que vi que podemos deixar o carro em casa durante as estações quentes e sair de bike, pois há mais de 230 mil quilômetros de ciclovia. Só no frio que a gente deixa a bike em casa porque sair a menos 30 graus não rola. #lerigo
Foi naquele meio do mato que aprendi que pescar no gelo é sim uma atividade divertida e social. Fazemos até eventos em cima de lagos congelados, com direito a esculturas e tudo. E por falar em esculturas, naqueles matos também encontrei o The Walker Art Center, um museu internacionalmente renomado de arte contemporânea, cujo jardim adjacente, o meu amado Minneapolis Sculpture Garden, é um dos maiores parques urbanos de esculturas.
E ainda no papo de esculturas urbanas, não estranhe se esbarrar pelas ruas da capital Saint Paul – e também em Minneapolis – com diversas estátuas dos personagens do Snoopy, Charlie Brown e sua turma. Aliás, eles nasceram ali, naquele meio do mato.

E nesse mundo de famosos, podemos dizer que esse meio do mato até tem o seu prestígio. A cena musical Minnesota é lendária. São de lá, por exemplo, uns tais de Bob Dylan e Prince. Conhecem?!
Em quesito de música esse meio do mato me dominou. As baladas de Downtown Minneapolis e de Saint Paul… São tantas histórias. Tantos low, low, low. Tantos shot, shot, shot! Tantas coisas! Muitas risadas embaladas com os duelos de pianos ao som dos anos 80. Tanto que uma família de Nova York uma vez me convidou para morar com eles e me disse que eu ia ter muito mais diversão lá. Como qualquer pessoa em sã consciência que recebe uma proposta dessas, minha resposta só foi simples: “Se eu tiver mais diversão do que eu tenho aqui, eu vou presa”. Ah esse meio do mato…
Aliás, foi nele que chorei ao ver as crianças batendo na porta de casa, fantasiadas no Halloween. Foi ali que fiz piquenique com todos do bairro, inclusive com os policiais, para que todos pudessem se socializar, atualizar as novas dicas de segurança e, claro, conhecer os possíveis novos moradores – no caso, eu. Foi no meio daquele mato que fizemos de pilhas de folhas, bancos de neve, lagos e parquinhos de praça nossas mais incríveis diversões – eu e os pequenos de quem eu cuidava. Não precisávamos de videogame nem de smartphones. A natureza nos era suficiente.
Foi ali que andei metros e metros entre lindas macieiras em uma manhã gelada de outono, puxando um carrinho, só para colher maçãs direto do pé. E aprendi a fazer uma compota. A mais gostosa que já comi. Com muito açúcar e canela.
Para muitos, meu intercâmbio foi no meio do mato. Para mim, ele foi no lugar mais perfeito do mundo. Tive uma experiência riquíssima e fiz amigos para uma vida toda.
Dê uma chance a novos matos.