Mas posso jogar a real? A saudade que você sentirá do intercâmbio pode ser bem pior maior. Principalmente se seu intercâmbio for muito legal!
“Putz, e a saudade da família? Como faz?”. Esse é um questionamento pra lá de natural para quem decide fazer intercâmbio. Mas posso jogar a real? A saudade que você sentirá do intercâmbio pode ser bem pior maior. Principalmente se seu intercâmbio for muito legal! O que normalmente é. Salvo raras exceções.
Não estou desmerecendo a saudade que sentimos de casa. Não me entenda mal. Acontece que a saudade da família tem um prazo para chegar ao fim. Você sabe quando vai voltar pra casa. Agora, nem sempre você sabe quando vai voltar para o lugar onde fez intercâmbio, e pior, se voltar, pode ter certeza que será tudo diferente.
É normal passar por esse período saudosista que parece não ter fim nunca. Tem gente que encara numa boa a volta pra casa, mas há quem que entre em depressão, chore o tempo todo, que critique tudo e todos que estão a sua volta quando retorna “à realidade”.
Quando embarcamos para uma nova terra, uma nova cultura, passamos por um processo de adaptação. Saímos da nossa zona de conforto (nosso lar, nossos amigos, nossos costumes), para encarar o desafio de se encaixar nessa nova realidade. Para isso, passamos por diversas mudanças interiores e exteriores. Então, quando o intercâmbio termina, temos que voltar para aquele velho “eu”. Contudo, nós já não somos mais os mesmos, e é aí que surge um sentimento muito comum em intercambistas: de que seus amigos, seu familiares, as pessoas que ficaram em sua terra natal parecem ter parado no tempo. Isso não significa, entretanto, que você está mais avançado que eles. Mostra apenas que você mudou. Assim, como eles, com certeza, também mudaram – apesar de isso você não [querer] enxergar isso.
O mais estranho é que temos que nos readaptar a algo que, teoricamente, nós já conhecíamos, do qual já fazíamos parte. E isso causa um conflito interno. O processo de readaptação não é fácil. Comparações se tornam parte do nosso olhar, do nosso pensamento, de nossas palavras – involuntariamente. Muitas vezes, nos tornamos “chatos” por isso. Sim, é preciso ter cuidado para não se tornar um porre de pessoa. Então, é chegado o momento de crescer mais uma vez, de reaprender a se encaixar naquela realidade que já conhecíamos, mas com a qual nos desacostumamos.
Para ajudar quem está passando por isso, ou até para “preparar” quem irá viver esse momento, conversei com ex-intercambistas que, assim como eu, ultrapassaram esse momento saudosista e se readaptaram às suas vidas no Brasil (sem esquecer, é claro, os momentos incríveis que viveram durante a viagem) e separamos algumas dicas. Confira:
1. Apelar para tecnologia
Com o avanço da tecnologia, estamos cada vez mais conectados. Por isso, manter contato com as pessoas que conheceu no intercâmbio ficou ainda mais fácil. Por exemplo, a turismóloga Patrícia Vargas já fez intercâmbio para os Estados Unidos duas vezes. Na experiência mais recente, ficou 2 anos (2013 – 2015). Patty, como gosta de ser chamada, confessa que a saudade a acompanha o tempo inteiro, mas seu truque para dar uma amenizada é aproveitar ao máximo a tecnologia. “A saudade fica sempre, mas ainda bem que nós temos Skype, facebook, e-mail, whatssapp e assim a gente vai matando a saudade aos poucos”, explica.
2. Ocupe-se
Conhece aquele ditado que diz que cabeça vazia é oficina do diabo? Então, para tentar deixar a saudade de lado, pelo menos por um tempo, tente se ocupar.
Amanda de Oliveira Camargo, que hoje trabalha como gerente de vendas, lembra que não foi fácil a readaptação e que no começo só chorava (sim, a gente chora muuuuuito nos primeiro dias, meses e até anos). Mas a dica da ex-intercambista é voltar a trabalhar/estudar o mais rápido possível. É importante manter a cabeça ocupada, pois assim será mais fácil readaptar-se à nova-velha realidade.
3. Aproveite o lado bom do seu país
É mais que normal ficarmos encantados com o modo de viver do lugar onde fizemos intercâmbio. Não se espante ao ouvir um ex-intercambista dizer que o lugar onde ele morou era o melhor lugar do mundo. Essa é uma reação comum. Afinal, era tanta novidade, que o mais normal é gravar só as experiências boas. O que nos deixa com mais saudades ainda do intercâmbio. E isso não é um sentimento que compete somente aos brasileiros, mas sim intercambistas/viajantes em geral.
Mas, apesar de todos os problemas que nosso país pode apresentar, não podemos esquecer que vivemos muita coisa boa em casa. Afinal, experiência alguma paga o preço de estarmos cercados pelas pessoas que amamos, principalmente nossa família. “Tenho incríveis recordações dos Estados Unidos, mas o amor das pessoas daqui, a padaria de esquina, o botequim, essas coisas a gente não encontra lá… Essas coisas são tudo de bom! Aquece o coração da gente”, destaca Vanessa Sant’Ana, ex-intercambista e hoje coordenadora de RH.
Então, para ajudar a amenizar essa saudade, Amanda e Vanessa dão uma dica muito bacana: faça/aproveite aquelas coisas que só tem no Brasil e você gosta: samba, sertanejo, feijoada, pão de queijo, brigadeiro, caipirinha, etc.
4. Pare de criticar e fazer comparações
Ao estar com a família e amigos, tente aproveitá-los o máximo possível, sem ficar os comparando o tempo todo com os que ficaram lá no outro país. Antes de embarcar, você os amava do jeito que eram, então, não tem motivo para não os amar agora. Lembre-se, quem mudou foi você. Então, é você que precisa fazer um esforcinho para compreendê-los novamente – e quem sabe, compartilhar com eles o que aprendeu com a experiência do intercâmbio.
5. Tenha seu objetivo em mente
Você embarcou no intercâmbio com um objetivo, certo? Então, agora é hora de colher os frutos e, para isso, é muito importante não esquecê-lo. Se foi para aprender um novo idioma, fazer curso de especialização etc. para dar um up na vida profissional, empenhe-se em procurar um emprego (ou voltar para o seu antigo) em que poderá usar o que aprendeu. Se embarcou para poder viver uma experiência diferente, conhecer novas culturas etc., tente aplicar aqui o que aprendeu por lá. Fazer comparações e reclamações simplesmente não irá adiantar e nem ser justo com tudo o que viveu. Essa pode ser a oportunidade de passar para os que aqui ficaram um pouco do que você descobriu por lá.
6. Se quiser voltar, planeje-se
Não tem jeito, você quer fazer intercâmbio de novo? Voltar para o local onde estava? Tudo bem. É só se planejar. Mas é bom lembrar que voltar para onde você fez intercâmbio não significa voltar no tempo. A realidade será diferente. Sempre é. Cada experiência é única. Uma dica boa é buscar outro destino para seu próximo intercâmbio, assim você não se frustra com comparações e poderá descobrir e vivenciar novas experiências, tão maravilhosas quanto a primeira. Ah, mas enquanto você se planeja e se organiza para viajar novamente, não se esqueça de viver intensamente sua vida aqui, na sua casa, dando atenção e carinho para sua família e amigos.
Beijos e até a próxima!