Eu como uma boa marinheira de primeira viagem aprendi mesmo, desde o primeiro segundo, na chegada a Inglaterra.

Todo dia é dia de aprender alguma coisa. No dia que você coloca o seu pé em um novo país ou abre o olho depois de uma longa e exaustiva viagem, já está em um ambiente novo, com pessoas diferentes e uma língua que provavelmente não entende.

Ana Beatriz
Ana Beatriz

Lembro de ter ficado muito assustada e de não ter dormido bem durante meu voo para Londres. Era a primeira vez que eu ia sozinha, totalmente sozinha para o exterior, para estudar inglês. Eu não conhecia ninguém na cidade e muito menos tinha alguém com uma plaquinha com o meu nome me aguardando no aeroporto. Além disso, veio um homem estranho e barulhento na poltrona ao meu lado, usava um turbante preto e carregava uma maleta. O ataque as torres gêmeas ainda era um assunto muito recente em 2004 e ele ali, na última poltrona. E eu com medo de ele abrir aquela mala e tirar um elemento surpresa a qualquer momento. Depois de 11 horas de viagem, amanheci e pensei: ufa, sobrevivi.

Cheguei em Londres e já me deparei com muita gente diferente: as árabes com suas burcas, as indianas e seus saris coloridos. Africanas e aqueles turbantes de todas as cores possíveis, quanta mistura! E eu ali parada, com aquele monte de bagagem e tentando entender como iria para ir para a casa em que moraria – e olha só, nunca tinha andado de metrô! Acabou que entrei naquele táxi preto e mostrei o endereço para o motorista. Arranhei aquelas palavras em inglês – que achei que eu sabia – ele resmungou, pegou o papel e foi. Fui durante todo o trajeto observando as casas iguais as dos filmes. Parecia que eu via tudo em câmera lenta, de repente o meu sonho se realizando. Era setembro e caia uma chuva fininha, não estava frio, mas acho também que a emoção de chegar era tanta que parecia que eu estava sonhando. Mal sabia eu o que ainda vinha pela frente.

Londres - Dezembro/2004
Londres – Dezembro/2004

Quando a chega muda para outra cidade ou país, começa a entender que toda hora vai aparecer uma surpresa, um aprendizado ou uma situação que a gente vai ter que aprender a lidar. Abaixo conto algumas para vocês:

  • Ainda na minha cidade, ao chegar ao aeroporto para partir, levei somente uma mala muito pesada ao invés de 2 com menos peso e que eram permitidas pela companhia. Quis ser econômica na quantidade de coisas e sofri ao ter que dividir o peso e carregar dois volumes do mesmo jeito. Como era muito cedo, não tinha lojas abertas e tive que enfiar minhas roupas em uma sacola plástica e embrulhar à vácuo. Trabalhão carregar uma mala, um saco, a minha bolsa, jaqueta e cachecol! Lição 1: conferir com a companhia aérea qual a permissão de bagagem, já que cada uma tem uma regra diferente.
  • Cheguei na casa em que eu ficaria por duas semanas e vi que não falava inglês (de novo) tão bem como eu pensava. Lição 2: prestar mais atenção e estudar um pouco da língua antes de sair do país de origem.
  • Não conseguia me comunicar com a turca que já morava na casa e também não me entendia. Fui descobrir que eu tinha dois documentos emitidos com endereços diferentes. Lição 3: checar todos os papeis com atenção, pesquisar para onde você esta indo.
  • Eu tive que pagar bem caro no táxi, afinal, não sabia sair do aeroporto. Lição 4: contratar um transporte especializado ou pesquisar antes de ir as opções para chegar no seu endereço. Descobri que havia outra opção de táxi que cobrava a metade do valor que eu paguei.
  • Cheguei de manha cedo e muito cansada. Era sábado e a escola em que eu teria que pegar a chave da acomodação estava fechada. Como a escola era longe e eu estava cheia de malas, não tinha nem como sair de frente da casa. A segunda casa! Que fui depois de não entender bulhufas em turco mas a menina ser muito gente boa e me colocar num outro táxi. Desta vez mais barato. Lição 5: tenha o passo a passo da sua chegada no país até entra no seu quarto. E:
  • Morri de fome! Lição 6: Compre algo no aeroporto ou no caminho para a sua casa, pelo menos para a sua próxima refeição. Assim, você pode chegar, tomar um banho, comer e descansar. Depois, acordar pronto para bater perna pela redondeza e descobrir como comprar os tickets de transporte, qual o supermercado mais próximo e como conhecer as coisas boas para fazer ao seu redor. Acabei comendo feijão doce que a russa brava da minha casa me ofereceu. E aprendi, de novo, a provar uma comida desconhecida e gostar. Ou era a fome!

Eu como uma boa marinheira de primeira viagem aprendi mesmo, desde o primeiro segundo, na chegada a Inglaterra. Não veja os problemas como um drama, se abra para as novidades e tire tudo que acontecer como forma de amadurecimento. Eu continuo, todos os dias, aprendendo uma coisa nova.

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  1. Cheguei em um novo país. E agora?
  2. Acomodação Estudantil ou Casa de Família?

    Ana Beatriz Freccia Rosa começou a sua volta ao mundo em 2004 quando foi morar em Londres. De lá, fez algumas viagens pela Europa e dois “mochilões” pelo Oriente Médio e parte da Ásia. Voltou para o Brasil, percorreu parte da América Latina e não conseguiu sossegar. Em 2010 partiu para mais uma aventura com passagem só de ida para o Sudeste Asiático e um período sabático na Austrália, onde viveu por dois anos e meio. Em abril de 2013 largou a casa de frente para o mar e voltou para a Terra da Rainha, onde tudo começou. Visite também o meu instagram @omundoqueeuvi e o meu canal no youtube aqui.